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O Golpe de 64

Apresentando trechos do livro Sargento e os enfatizando como vestígios históricos.

"Brasília, 1964. Lourival Silva"


É seu desejo comandar? - Pág. 18


Contexto: "...Fiquei pensativo, porque a Maria nunca se mostrava preocupada, mas até eu sentia a dor da minha mãe na época, então será que ela escondia?

Sou da polícia desde que ela me conhece e nunca percebi nada. Firmamos o namoro quando voltei à Bom Despacho para o curso de cabos em 63, vindo de Vargem Bonita. Após a minha promoção a cabo fui escolhido para seguir à cidade de Piumhi, onde através do Governo Estadual estava se desenvolvendo uma grande obra de drenagem do Rio Piumhi, esgotando um pantanal enorme com a intenção de ligar o Rio Grande ao Rio São Francisco. Com o enxugamento de centenas de hectares de terras férteis, chegaram ao local milhares de pessoas sem terra, componentes da Liga Camponesa Campesina. O local estava sob o controle da Polícia Federal. Comigo, seguiram 10 soldados devidamente armados e preparados para qualquer ação. Estávamos à disposição de delegados e agentes federais por tempo indeterminado, mas o exército assumiu a situação após 30 dias, sendo a tropa da PM dispensada e retornada a Bom Despacho. Só neste período consegui voltar a vê-la e por pouco tempo.

Trecho em análise: "Em 64, fui chamado para compor a equipe de adestramento de recrutas, sendo as aulas interrompidas pela “Revolução” Militar. O Sétimo Batalhão participou ativamente*, enviando uma tropa especial à Brasília, da qual fiz parte, integrando o segundo pelotão. Partimos em 29 de março, rumo a capital federal. Em 31 de março, ocupamos Brasília com as demais tropas mineiras, ficando no bunker escondido sob o Teatro Nacional e a rodoviária*. Após a "rendição" de Brasília e outros Estados*, foi empossado como novo Presidente da República o Marechal Castelo Branco, com todo o apoio da sociedade civil. Em 21 de abril, foi realizado um grande desfile cívico militar na Praça dos Três Poderes, com a participação de todas as tropas, intitulado "Desfile da Vitória"*. No fim de abril a maioria das tropas retornaram às suas cidades de origem. Com exceção das denominadas GT-1 e GT-2*. A GT-1 era formada por tropas do Exército e a GT-2 por tropas mineiras da PM, incluindo o Sétimo Batalhão de BD e o Décimo Batalhão de Montes Claros, com o objetivo de sufocar qualquer reação adversa ao golpe e a captura de grupos contrários ao movimento. Ficamos estacionados na cidade satélite de Taguatinga, com apenas um manto para deitar no chão do colégio técnico, sob o comando de um general do Exército. Ao término completo de todo o movimento, em 15 de maio de 64, regressamos para sermos recebidos como heróis.



* Partipação do Sétimo Batalhão. "Partimos em 29 de março rumo a capital federal. Tendo esta tropa incorporado o Décimo Batalhão de Montes Claros. Em 31 de março, ocupamos Brasília com as demais tropas mineiras, ficando no Teatro Nacional. As tropas mineiras foram formadas por exército e polícia militar das cidades de Diamantina, Montes Claros, Lavras, Uberaba, Bom Despacho, Juiz de Fora, São João Del Rei, Belo Horizonte e outras."

Silva, Lourival (2021). Lourival Silva: Um Relato Sucinto de Minha Vida. p. 21


"O Destacamento Tiradentes foi formado por tropas do Exército sediadas na 4ª Região Militar, da 4ª Divisão de Infantaria e da Polícia Militar e, “como homenagem ao espírito de união de todos os seus integrantes, bem como de todos os mineiros, foi denominado Tiradentes, para simbolizar o ideal de Tiradentes”, conforme frisara em seu discurso o general golpista Antônio Carlos da Silva Muricy, nomeado comandante do destacamento. Este destacamento misto de combate foi formado pelas seguintes unidades militares: 10º Regimento de Infantaria, 11º Regimento de Infantaria, 12º Regimento de Infantaria, 4º Esquadrão de Reconhecimento Mecanizado, 4ª Companhia de Manutenção, 4ª Companhia de Intendência, 2º Batalhão de Infantaria da PMMG, 5º Batalhão de Infantaria da PMMG, 9º Batalhão de Infantaria da PMMG.

O Destacamento Belo Horizonte ficou subordinado ao general Carlos Luiz Guedes, comandante da ID/4, abrangendo, em sua maioria, tropas da Polícia Militar, sediadas em Belo Horizonte: Departamento de Instrução, Regimento de Cavalaria, Corpo de Serviço Auxiliar, 5º Batalhão de Infantaria (transferido do Destacamento Tiradentes), 7º Batalhão de Infantaria (que mais tarde cedeu algumas de suas frações para outros pontos estratégicos do Estado), e o 3º Batalhão de Infantaria. Este último, após iniciadas as movimentações das tropas, veio a se unir a companhias do DI, RCM, BG e 12º Batalhão de Infantaria, juntamente com tropas do exército, que foram despachadas para o “avanço” sobre Brasília

Silva, André Gustavo da (2014c). Um estudo sobre a participação da PMMG no movimento golpista de 1964 em Belo Horizonte (PDF) (Dissertação de Mestrado). São João del Rei: UFSJ. Consultado em 5 de junho de 2020. p. 177


Devido a incorporação das tropas e a reoganização de denominações com o tempo, é difícil achar referências que citem o Sétimo Batalhão nesta denominação, diferentes do próprio site da PMMG. Contudo, o envolvimento da polícia militar do Estado é bem catalogado.





* Bunker sob o Teatro Nacional e a rodoviária


Não encontrei confirmação! :o


* Rendição" de Brasília e outros Estados


Os governadores eram relevantes por conferirem legitimidade civil [367] e comandarem as Polícias Militares.

Às 02:00 da madrugada do dia 1, Ademar de Barros (PSP), governador de São Paulo, anunciou que seis estados já estavam rebelados contra o governo federal: São Paulo, a Guanabara de Carlos Lacerda (UDN), Minas Gerais de Magalhães Pinto (UDN), o Paraná de Ney Braga (PDC), Goiás de Mauro Borges (PSD) e Mato Grosso de Fernando Correia da Costa (UDN). Desses seis, ao menos Ademar, Lacerda e Magalhães eram conspiradores. Ademar era politicamente errático, não queria correr o risco de uma derrota militar e recusou-se a começar o golpe em seu estado, citando o exemplo da Revolução Constitucionalista. Sua adesão veio na noite do dia 31. Francisco Lacerda de Aguiar (PSD), do Espírito Santo, combinou sua participação com os mineiros no mês de março e confirmou-a às 09:00 da manhã do dia 31. Ney Braga era conspirador, assim como Ildo Meneghetti (PSD), do Rio Grande do Sul, e Luís de Sousa Cavalcanti (UDN), de Alagoas.

Aluízio Alves (PSD), do Rio Grande do Norte, Petrônio Portella, do Piauí, e Lomanto Júnior (PL), da Bahia, inicialmente se declararam a favor do governo federal e depois voltaram atrás. Alguns militares exaltados quiseram derrubar Lomanto Júnior e Virgílio Távora (UDN), do Ceará, mas o Quarto Exército não permitiu. Pedro Gondim (PSD), da Paraíba, aderiu sob pressão militar. Plínio Coelho (PTB), do Amazonas, e Aurélio do Carmo (PSD), do Pará, estavam na Guanabara durante o golpe e apoiaram o presidente. No pós-golpe, voltaram atrás, mas perderam seus mandatos. Badger da Silveira (PTB), do Rio de Janeiro, e José Augusto de Araújo (PTB), do Acre, também caíram no pós-golpe. Miguel Arraes e Seixas Dória eram alvos desde o início do golpe. Mauro Borges, apesar de seu apoio ao golpe, foi destituído em novembro de 1964 por intervenção federal de Castelo Branco.


* Desfile da Vitória

"...no dia 20 (De maio de 64), a oposição organizou a Marcha da Família com Deus pela Liberdade."

"As Marchas da Família prosseguiram até junho, agora com tom celebratório. A Marcha da Vitória, no Rio de Janeiro, foi a maior do ano.[399]"


* GT-1 e GT-2


GT é sigla para Grupamento Tático.


Um agrupamento ou grupamento é um tipo de unidade militar, organizada apenas temporariamente para o desempenho de uma determinada missão. Normalmente, tem as dimensões de um regimento ou batalhão, sendo comandado por um oficial superior.

Wikipédia: Agrupamento e links subjacentes


Voltando: "Na época eu era muito amigo do capelão do batalhão, Capitão Capelão Vicente, homem da maior cultura e dedicação. O nosso batalhão dispunha de uma das melhores bibliotecas do Estado e ele, tarado pela leitura, quase sempre podia se encontrar por lá. Uma vez me chamou para conversar, me apresentei, pois além de clérigo ele era alta patente na PM, e me perguntou se eu estaria ocupado no Domingo:


- Acho que não senhor.


- Preciso da sua clareza e certeza cabo - respondeu insatisfeito.


- Não senhor, estarei livre no Domingo.

- Poderia me buscar na casa do meu pai às 11:15? Ainda te dou 15 minutos de atraso.


- Nunca me atrasei na vida senhor, estarei lá no horário.


E lá estava eu, devidamente uniformizado, pois quase nunca era permitido que um cabo andasse à trajes civis. O capitão me chamou para dentro e conversamos fiado enquanto tomávamos um delicioso vinho, até que vestiu seu uniforme, com cruzes de Cristo no lugar das estrelas na platina, e me pediu que o acompanhasse. A casa da Maria era um pouco abaixo e lá fomos. Havia um almoço, e ele, ao se apresentar, disse estar honrado, porém, todavia, só ali comeria na presença de seu convidado.

Já namorávamos há 2 anos, mas a família dela, o povo de Catira, era relutante em receber qualquer soldado. Acontece que, além de gostarem de puxar saco de rezador, o tio do Capelão Vicente era um grande coronel, que desde o golpe, mandava mais no Estado de Minas Gerais que o próprio governador. Por tempos imaginei que a Maria havia organizado tamanha apresentação, mas foi um ato puro do capitão.




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